Muito antes do meu filho nascer já eu tinha interiorizado que me caberiam a mim a maior parte das acções para garantir o seu bem estar. Não se tratava apenas de amamentar. Iria dar banho, mudar a fralda, vestir, despir e por aí fora.
Nos seus primeiros meses de vida nunca aceitei bem a intervenção de outra pessoa, que não o meu marido, em qualquer uma dessas tarefas. Eram momentos exclusivamente nossos e, no meu entender, ninguém saberia desempenhar o papel melhor do que nós.
Mas o que inicialmente nos parece fascinante com o tempo acaba por nos esgotar. Mais cedo ou mais tarde acabamos por ceder e aceitar ajuda.
A pouco e pouco fui deixando as avós, sempre prestáveis e desejosas de relembrar o passado, mudar-lhe a fralda. Mas ficava por perto a dar indicações, ou se não estava ía depois inspecionar se tinham tido atenção às dobras e se não o tinham apertado demasiado, como se elas nunca o tivessem feito.
Fui mãe galinha, confesso. Demasiado preocupada. Incapaz de me afastar do meu filho por uma hora que fosse apenas para ir beber um café e apanhar ar. Mas é o primeiro filho e o medo de fazer alguma coisa mal, de não estar quando é preciso, tem tendência a perseguir-nos. É realmente preciso coragem para o despistar.
Nunca quis ser assim e sempre disse que não o seria. Enganei-me a mim mesma.
Não é fácil inverter a tendência natural para nos colarmos ao bebé. Ainda para mais quando esteve dentro de nós tanto tempo e foi tão desejado. Mas é preciso abrir mão, devagarinho, e deixar espaço para outras pessoas participarem no seu crescimento.
Hoje não sou tão possessiva. Não poderia continuar a sê-lo. Mas o processo foi evoluindo gradualmente com o seu crescimento e exigiu, sobretudo, vontade de mudança.
Talvez por isso já não me tenha sido difícil aceitar que outras pessoas que não eu agora também cuidam dele. E que o vão fazer daqui para a frente, praticamente todos os dias, ainda que não exactamente da mesma maneira.
As coisas são como são e desde que ele continue feliz bem eu também estou. Mesmo não podendo estar fisicamente com ele 24 horas por dia, estarei com toda a certeza em pensamento.
Amor de mãe é assim mesmo, sem limites...
"Eu acho que são os bebés quem melhor é capaz do amor de mãe. Mas não devo dizê-lo. Suponho eu. São eles quem nos resgata para amar à margem da necessidade das palavras. E quem comprova que tudo aquilo que sabíamos sobre o amor, afinal, era verdade. Mas também acho, que se não fosse o amor de mãe, muitas pessoas nunca teriam, nem de longe, uma referência para o seu amor."
Eduardo Sá, Revista Pais e Filhos, Abril 2011